sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

RocknRolla


As análises cinematográficas estão de volta aqui ao estaminé, para começar é imperativo dizer que Guy Ritchie está de volta e em grande forma. A sua nova criação RocknRolla, leva-nos como seria de esperar para o universo do crime organizado em Londres. Mas surge desde logo uma novidade comparativamente a outros filmes do género, aqui o filme gira em torno do mercado imobiliário e não da droga como estamos habituados. Esta poderia ser uma escolha perigosa e extremamente audaciosa por parte de Guy Ritchie, mas acaba por ser uma aposta ganha, porque a problemática do negócio de imóveis é bastante apropriada e actual.

O filme conta-nos a história de Lenny (Tom Wilkinson), um patrão da velha guarda do submundo londrino. Lenny é respeitado por todos os criminosos da cidade, que o procuram para por os seus negócios em andamento. Como é o caso de One Two (Gerard Butler) e Mumbles (Idris Elba), dois membros da quadrilha The Wild Bunch, que acabam por lhe ficar a dever 2 milhões de euros. Uri Omovich (Karen Roden), um bilionário Russo também procura Lenny para obter a licença de construção para o seu estádio de futebol em troca de 7 milhões de euros. É a partir deste momento que Lenny começa a ver tudo a dar para o torto, o dinheiro de Uzi é roubado e pior que isso o quadro da sorte que lhe foi emprestado pelo Russo é roubado de sua casa. Parece-me melhor colocar um travão neste pequeno sumário para não estragar as surpresas. Mesmo assim, vale a pena referir algumas personagens interessantes: Archy (Mark Strong) o braço-direito de Lenny e o narrador; Stella (Thandie Newton) uma contabilista que trabalha para Uri, uma figura delicada no meio de machões; Johnny Quid (Toby Kebbell) uma estrela de rock absorvida pelo mundo das drogas e os seus agentes Roman (Jeremy Piven) e Mickey (Ludacris). Todas estas personagens irão acabar por colidir para protegerem os seus próprios interesses, tornado o final bastante satisfatório.


O elenco encabeçado por um Tom Wilkinson de alto nível foi muito bem escolhido por Guy Ritchie. Tenho que destacar Toby Kebbell que interpreta de forma notável um rockeiro numa brutal espiral de auto-destruição e ainda Mark Strong (se o nome não for um pseudónimo é extraordinário), uma espécie de Lenny’s number two, sempre calmo e subtil consegue proporcionar momentos divertidíssimos. Aliás, este mesmo actor também se destaca no último filme de Ridley Scott “Body of Lies”, que tive a oportunidade de ver recentemente, no meio de actores como Leonardo DiCaprio e Russell Crowe. RocknRolla está recheado de momentos hilariantes como a relação entre One Two e Handsome Bob, mas isso também fica dentro do saco das surpresas. No entanto, parece que por vezes é necessário um background deste género de filmes, uma certa cultura cinéfila para se acompanhar o humor e sentido desta obra.



Uma crítica que se costuma fazer a Guy Ritchie é que se mantém sempre preso ao mesmo registo. Este filme não foge a regra, temos bandidos imbecis, russos com pouca vontade de morrer. Aqui vamos ter todos os troques que Ritchie nos habitou em filmes como “Lock, Stock and Two Smoking Barrels" (que continua a ser o seu melhor filme) e “Snatch”, mas colocados de outra maneira. Por exemplo, neste filme a violência nem sempre é mostrada ao espectador, que por vezes fica atrás da porta e através de um diálogo ou de um par de tiros fica a saber o que aconteceu. Para mim, o facto de Ritchie trabalhar sempre no mesmo registo não é um defeito, mas instrumento de humor bem conseguido, pois permite inclusive que faça troça dos seus próprios filmes. Ele não deve ter receio em trabalhar na sua fórmula habitual, porque essa fórmula proporciona qualidade e divertimento garantidos. Por exemplo, se tiver descoberto o molho perfeito para o bife, com um paladar delicioso, não vou perder tempo a tentar criar outros molhos correndo o risco de comer algo intragável (que belo exemplo). Concluindo, RocknRolla é um filme muito bem lapidado, cheio de classe e sobretudo um imperdível momento de entretenimento. Portanto tudo ao cinema antes que apanhem uma “constipação” e pagar o bilhete todo sem descontos porque este filme merece.



(a espectacular música no trailer é Rock & Roll Queen dos The Subways)
Classificação: Capaz de levantar a pila a mortos!

Sem comentários: