sexta-feira, 31 de outubro de 2008

In Bruges


Antes de começar a esmiuçar este tremendo filme, quero dizer que Bruges já recebeu a minha visita no passado. Já fui um turista nesta cidade medieval repleta de belos canais que como todos sabem (menos os americanos) fica na Bélgica. É sem dúvida tirada de um conto de fadas, no entanto e ao contrário do filme, esta cidade da Flandres não estimulou em mim qualquer tendência assassina, não me despertou qualquer apetência para a violência nem tão pouco vontade de correr loucamente com uma carabina na mão. Admito que a idiossincrasia de outras pessoas para tal possa ser diferente.

“In Bruges” conta-nos a história de dois assassinos profissionais, Ray (Colin Farrell) e Ken (Brendan Gleeson) que se retiram em Bruges por ordem do seu chefe Harry (Ralph Fiennes) para que possam arrefecer depois do último trabalho em Londres ter corrido mal. A reacção dos dois irlandeses perante a cidade é bem distinta, Ray abomina-a e quer voltar para Londres o mais rápido possível, enquanto Ken fica estarrecido pela sua beleza e tranquilidade. Com o passar do tempo a sua estadia vai-se tornando cada vez mais surreal devido a estranhos encontros com turistas, anões e prostitutas holandesas. O desempenho dos actores é fenomenal, com destaque para Colin Farrell que tem neste filme provavelmente o melhor desempenho da sua carreira. E ainda Ralph Fiennes que interpreta um homem de negócios londrino com constantes ataques de raiva, que apesar de chegar tardiamente ao filme tem o dom de elevar ainda mais a fasquia qualitativa do mesmo. Este é o primeiro filme escrito e dirigido por Martin McDonagh, vencedor de um Óscar com a curta-metragem “Six Shooter” em 2006 e o seu passado como dramaturgo está bem presente com um balanço quase poético entre a comédia e o drama. Muita coisa neste filme é levada ao extremo (não é para todos os estômagos), o humor com piadas sobre americanos anafados e guerras raciais de anões, e a violência ao melhor nível de David Cronenberg. Mas nada é descontextualizado, existe sempre um propósito para tudo. Não se pense que este filme é uma comédia ensanguentado de princípio a fim, existem também inesquecíveis momentos de romance e melancolia. O argumento escrito por McDonargh é magistral fazendo lembrar o que de melhor conseguem fazer Quentin Tarantino e Guy Ritchie. A banda sonora composta por Carter Burwell, conhecido por trabalhar com os Irmãos Coen, é igualmente notável. Ele consegue a tradução perfeita das ideias do filme para as teclas do piano. Resumindo este é um dos melhores filmes do ano, uma genuína obra-prima.


Harry - “An Uzi? I am not from the south center Los fucking Angels. I didn't come here to shoot 20 black 10 years old in the fucking drive-by. I want a normal gun for a normal person.”

Classificação: Orgásmico

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