quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Renascença do Roque-Enrole

Antes de mais fazer um ponto prévio, para dizer que o post que se segue não tem a mínima intenção de criticar musicalmente qualquer dos artistas citados no mesmo. Até porque eu não percebo nada de música. E do pouco que ouvi dos Pontos Negros até me pareceram uma banda bem jeitosa.
Pronto, seguindo em frente, na edição da revista "Actual" (para quem não está a ver, falo da revista cultural que faz parte do jornal Expresso) da semana que agora termina, aí pela página 26, vem todo um artigo sobre como o Roque-Enrole português (expressão que se bem entendi é da autoria de um dos artistas sobre os quais o texto de debruça) está a viver a sua, e isto é pomposo, Renascença. Espectacular hã? O título, aliás, versa assim "Bem-vindos ao renascimento". Trocando por miúdos, quer isto dizer que, na opinião do autor do texto, existe toda uma nova geração que está a resgatar este género musical das profundezas do obscurantismo, em que viveu durante longos anos, de volta para o lugar de destaque em que foi colocado nos saudosos anos 80. Até aqui nada a opor, tudo a saudar. De facto, nos últimos anos parece existir uma onda criativa, em várias áreas culturais que não só a música, como há muito não se via aqui por Portugal.
Onde tudo isto me começa a criar uma certa confusão é a partir do segundo parágrafo, onde se afirma, e passo a citar: "A Florença do pop/rock luso situa-se algures entre Queluz e São Domingos de Benfica(...)" Hummmm..... Queluz e São Domingos de Benfica? Epá com mil macacos, eu suporto incondicionalmente a existência de uma Florença em Portugal, mas não podia ser por exemplo numa zona mais nobre tipo Chiado ou Baixa? Eu pensava que era aí que os artistas circulavam... alguém está a ver, por exemplo, um Boticelli em São Domingos de Benfica? Para além de que, em São Domingos de Benfica e em Queluz não existe aeroporto, ao contrário do que sucede em Florença, o que torna as visitas a essa zona por parte de turistas estrangeiros muitíssimo complicadas.
Em segundo lugar, e esta sim foi a verdadeira razão que me levou a escrever tão bela peça de literatura, porque é que esta gente do meio artístico tem de utilizar sempre nomes tão esquisitos? Um certo nível de esquisitice eu ainda compreendo, afinal é preciso chamar a atenção do ouvinte mais desatento, mas eu acho que estamos perigosamente a transpor certos limites de...qualquer coisa. Senão vejamos: na legenda que acompanha a figura ilustrativa do texto de João Lisboa, podemos ler o nome dos Miguel Angêlos de São Domingos de Benfica. São eles: Guel Sousa, B Fachada, Samuel Úria, João Coração, Silas Maldito, Tiago Guillul e Jorge Cruz. Mas Jorge Cruz até é um nome normal, pensam vocês. Sim, mas se vocês tivessem acesso à imagem, coisa que não vai acontecer porque não me está a apetecer fazer um digitalização da mesma, reparavam que a ordem dos nomes acompanha a ordem pela qual eles estão posicionados. Ou seja o Jorge Cruz, que acredito seja uma excelente pessoa mas tem um nome absolutamente banal, foi estrategicamente colocado (digo eu) a um belo canto. Temos pena.
Mas isto continua. Por exemplo, os nomes das duas editoras mais proeminentes da nossa Florença são então FlorCaveira (assim mesmo tudo pegado) e Amor Fúria. Isto é giro, segue um padrão. A próxima pode ser BenficaSporting ou PapelHigiénico Bidé.
Mas a coisa descamba mesmo para o humor involuntário (ou não...) quando chegamos ao nome das publicações de Tiago Guillul e João Coração. As do primeiro: Fados para o Apocalipse contra a Babilónia (2002), Mais Dez Fados Religiosos de Tiago Guillul (2003) e Tiago Guillul Quer Ser o Leproso Que Agradece (2004). Originalidade não falta a esta gente. Já o seu companheiro João Coração optou por agraciar uma das suas canções com o nome Fado do Bolo Alimentar.
E pronto por aqui me fico, consciente de que o Roque-Enrole está em boas mãos. Agora é mesmo a sério, porque no meio disto tudo a música consegue ser genuinamente boa.

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