sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Burn After Reading


Como ficou combinado, vamos então engordar o espaço cinéfilo aqui no nosso delirante Blog. Mas, antes de me debruçar sobre o filme que teve o privilégio de ser seleccionado para esta semana, queria fazer três breves referências. A primeira é de congratulação perante o regresso às bancas nacionais da edição lusa da revista Premiere, depois de um ano de ausência. A segunda referência incide no facto da minha paciência ter chegado ao limite diante da incessante interrupção de filmes nas salas de cinema portuguesas por parte de intervalos despropositados. Eu pensava que este flagelo tinha os dias contados, mas parece que voltou em força e agora com tempo pré-definido – 7 minutos para esfriar a tesão que o filme nos está a proporcionar. Por fim, quero destacar a minha extraordinária capacidade de Spoiler (não tenho qualquer tipo de pequena porta imaginária), ou seja, sou capaz de prejudicar ou arruinar completamente o visionamento de um filme (ou série televisiva) através de um prévio e pormenorizado relato do que se irá acontecer. Neste momento já devem ter percebido que a leitura deste Post deve ficar por aqui.

Após terem saído da última edição dos Oscars com o porta-bagagem cheio (três Oscars para cada um) com o thriller sombrio “No Country for Old Men”, que porventura os granjeou com respeito merecido no seio da indústria cinematográfica, os irmãos Joel e Ethan Coen regressam com a comédia negra “Burn After Reading”. A trama situa-se na cidade de Washington e arredores e conta a história de Osborne Cox (John Malkovich), um analista da CIA que se vê subitamente despedido e decide ficar em casa para se dedicar á escrita das suas memórias e á bebida, não necessariamente nesta ordem. A sua esposa Katie (Tilda Swinton) não demonstra grande consternação, pois tem o propósito de o deixar para poder viver com o amante Harry Pfarrer (George Clooney). Pfarrer é um marshall federal casado, demente sexualmente e constantemente aflito que não dispensa a arma a que tem direito. Quando, durante o processo de divórcio, um CD contendo as memórias de Cox incluindo alguns segredos da CIA cai nas mãos de Linda Litzke (Frances McDormand) e Chad Feldheimer (Brad Pitt), dois empregados de ginásio, o descalabro tem o seu inicio. Linda é uma serial dater, constantemente á procura do homem ideal e obcecada pela necessita de ser submetida a cirurgias plásticas (sobretudo ao rabo), Chad é um personal trainer e a sua excelente forma física é inversamente proporcional ao enorme vazio que existe dentro da sua cabeça. Ambos vão chantagear Cox para poderem extorquir algum dinheiro, originando irreflectidamente uma espiral de erros habitual nos filmes dos Coen. Para além da chantagem andar no ar, haverá inevitavelmente sangue nas paredes, murros, machadadas, tiros, dildos, queimados e mortos.

Quanto aos actores é fatal destacar Brad Pitt, a sua personagem é a melhor criação cómica deste filme, já para não falar do fantástico penteado que exibe, só superado pelo assassino em série Anton Chigurh (Javier Bardem) em “No Country for Old Men”. De evidenciar é também o trabalho de John Malkovich, constantemente agitado e irratdo, facilmente recorre a violência e á injuria para resolver os seus problemas. Uma nota final para J.K. Simmons, um alto dirigente da CIA que a única coisa que deseja é não ser aborrecido, ele fez com que eu soltasse as gargalhadas mais fortes sobretudo na cena final. Mas, sem dúvida, o melhor deste filme é os diálogos escritos de forma exemplar por parte dos irmãos Coen. Durante o filme, eles criticam uma América que está coberta por uma nuvem de ignorância, vaidade e cobiça, encerrando assim a “trilogia da idiotice”. Quem apreciar filmes como “Fargo” e “The Big Lebowski” sabe o que esperar e não sairá do cinema arrependido.

Osborne Cox – “Tu representas a idiotice contra a qual eu lutei toda a minha vida”

Classificação: Capaz de levantar a pila a mortos!

1 comentário:

Unknown disse...

"So report me... when it makes sense."