quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Que Rabanada de Vento!

Uma calamidade! Um desastre! Um pandemónio! Por estes dias, aqui no burgo, uma casa com telhado é um luxo, as ruas transformam-se em riachos, as fossas sépticas explodem com a fúria de géisers, abrem-se crateras na via pública, os postes de electricidade parecem dominós e Torres Vedras voltou à Idade da Pedra. Consequências do aquecimento global, argumentarão aqueles para quem o CO2 é Hitler em forma de gás. Fim-do-Mundo, brandirão outros. Conspiração para o Benfica não ser campeão, dirão ainda aqueles com um copito a mais. Não chego a tanto, preferindo antes fazer notar que Portugal, segundo aprendi na primária, tinha um clima ameno. Tinha, passado, porque face aos acontecimentos dos últimos dias parece-me seguro afirmar que Portugal é o feliz possuidor das piores condições climatéricas do Mundo, quiçá da Europa. Sair à rua é, hoje em dia, uma experiência limite, na qual podemos facilmente ficar levemente incapacitados, a beber por uma palhinha, ou mesmo dar às de Vila-Diogo.

Na pesquisa aturada que faço para escrever todos os posts deste blogue (afinal é o mais parecido que tenho a um trabalho), deparei-me com alguns títulos que atestam bem a veracidade daquilo que acabo de afirmar (como se isso fosse necessário...):

“Mini tornados arrancam 22 torres de muito alta tensão em Silves, Azambuja e Alenquer. “ in RTP.pt


“Parque de Campismo de Santa Cruz ficou totalmente destruído” in RTP.pt


Regresso à normalidade em Rio Tinto demorará semanas” in Visão


Mini tornados! Normalidade só daqui a semanas! Parques de Campismo totalmente destruídos! Espera lá! Parques de Campismo totalmente destruídos até nem é uma má notícia! Especialmente, se se tratar do da Costa de Caparica! Mas as outras são!

A juntar a tudo isto, já tivemos a classe agrícola a reclamar as devidas compensações resultantes dos estragos provocados pelo mau tempo. Não que tenha alguma coisa contra, mas no fundo até tenho. A agricultura é, provavelmente, a única actividade profissional de “retorno absoluto”. Se o cultivo corre bem, vende-se. Dinheirinho. Se o cultivo corre mal, somos ressarcidos. Dinheirinho. Mas derivo do que aqui me trouxe.

Parece que a região do Oeste foi a mais fustigada pelo mau tempo, com ventos a atingir os 200km/h, o que já dá para pagar multa. Ouve-se no telejornal da SIC “Quem dormia tranquilo numa roulotte, perdeu o sono.” Outros perderam o telhando de casa. Acredito que haja casos verdadeiramente dramáticos, mas discordo que umas chapas de amianto por cima de uns tijolos se possa considerar “o telhado de uma casa”. Ainda na região Oeste, um agricultor perdeu 20 anos de trabalho, quando o vento lhe levou a estufa. Triste, sem dúvida. Mas quando perguntado se tinha seguro, a resposta foi um óbvio não.

Baralhando e dando outra vez que se faz tarde. Algures entre o facilitismo das pessoas e das autarquias, encontram-se algumas das razões para tanto mal. O mau tempo ou bom tempo ainda não são passíveis de ser controlados pelo Homem. Talvez valha a pena fazer alguma coisa naquilo em que a mão humana pode intervir.

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